terça-feira, 7 de setembro de 2010

O que é CRIATIVIDADE?



Lendo o blog “Falando de arquitetura”, do arquiteto Edson Mahfuz, vêm a lembrança de quantas propostas supostamente criativas são colocadas no mercado sem que se perceba que são simples excentricidades ou tentativas desesperadas que fazer algo diferente do usual, mas que pecam por não dar nenhuma solução à necessidade que gerou a demanda. O Texto do lúcido arquiteto é tão importante que não resisti em publicar alguns trechos aqui.


Na matéria O MITO DA CRIATIVIDADE EM ARQUITETURA (http://usuarq.blogspot.com/2006/04/o-mito-da-criatividade-em-arquitetura_12.html) Mahfuz, coloca que “Existe grande confusão a respeito do que seria criatividade em arquitetura. Tal fato não seria preocupante se não tivesse tantos efeitos nocivos para sua a prática e para o seu usufruto.

Por um lado, uma noção equivocada por parte do público leva a uma demanda por objetos com os quais a arquitetura não deveria se envolver. Por outro, basear a prática sobre uma noção errada de criatividade significa produzir arquiteturas irrelevantes, na melhor das hipóteses”.


”Para usuários em geral, clientes, imprensa não especializada, estudantes de primeiros anos e até muitos arquitetos, criatividade é algo ligado ao imprevisto, ao insólito, ao surpreendente, cuja obtenção é dependente de um talento superior inato. Daí a existência e os elogios conferidos a edifícios de
aparência estranha, cuja lógica é muito difícil de entender. Segundo essa concepção, parece haver uma correlação entre criatividade e variedade, movimento, impacto visual, e outras categorias que levam ao estranhamento. Vista desse ponto de vista, a simplicidade e a elementaridade são sinônimos de monotonia e falta de criatividade”.


”Existem experts em “criatividade” que sugerem todos os tipos de origens para a forma arquitetônica: em alguns círculos é considerado criativo transformar um cinzeiro ou um croissant num edifício. A consequência mais importante e danosa do ponto de vista dominante é que a forma é vista como algo independente, como algo acrescentado aos aspectos específicamente arquitetônicos de qualquer problema”.


Mahfuz propõe que “toda atividade criativa seja essencialmente solução de problemas. Em outras palavras, a criatividade em arquitetura só existe, só se exprime, face a um problema real. Simplesmente não há criatividade sem problema referente. Assim, o criativo (ou o artístico) em arquitetura se revela como um modo superior de resolver, através da forma, os problemas práticos que definem um dado problema arquitetônico: a espacialização de uma atividade, a inserção de um edifício em um determinado lugar, a resolução técnica do objeto, etc.


Ou seja, não há nada de criativo em projetar e construir objetos de forma

inusitada e complicada a não ser, e isso é muito raro, que essa forma seja a resposta inevitável a algum problema real. Pelo mesmo motivo não há a menor criatividade em empregar estilos históricos para edifícios contemporâneos, como é a presente moda no Brasil”.


É bom sempre ficar atento às propostas “criativas” de seu arquiteto, pois muitas vezes o inusitado pode sair caro, não poderá ser utilizado efetivamente ou terá alta manutenção. Acho muito bonitas aquelas pedrinhas brancas entre o piso e a parede. Mas você já pensou no tempo e o transtorno que dá limpar a poeira que se acumula ali?



Finalmente, desfile de alta-costura não é pret-à-porter (pronto para usar). Mostras de arquitetura são mais parecidos com alta-costura. Não se iluda em poder utilizar tudo o que ali é apresentado. Para meus clientes, eu gosto de utilizar soluções que sejam de bom gosto, não desatualizem e possam ser utilizadas. E, na medida do possível, sejam também inusitadas. Quando se fala em solução, se fala em resposta à um problema. Ao se achar uma “boa solução”, é sinal que o problema ou necessidade foi bem resolvida. E isso é ser criativo!!








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