quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Como ajudar o arquiteto a realizar seu sonho

Algumas formas de como se dá a relação entre clientes e arquitetos, e com outros profissionais de serviço também, podem determinar o resultado da empreitada. Resolvi abordar aqui alguns destes aspectos que acho relevantes e que volta e meia me deparo no exercício da profissão.


Programa de necessidades.

O arquiteto desenvolve cada projeto para um cliente específico. Ele é único para aquele cliente. Além de saber os gostos, hábitos, preferências, valores, e uma série de características subjetivas de seu cliente, ele também precisa das necessidades imediatas, objetivas e palpáveis para desenvolver o projeto. E isto se faz através do Programa de Necessidades, que nada mais é do que colocar no papel (é importante escrever) tudo o que imagina precisar, como por exemplo, quanto de espaço para uma sala, quantas portas para o roupeiro do quarto, quantas cubas para o banheiro, quantos quartos para a casa, vagas de garagem, quarto de visita ou office, e até coisas mais subjetivas como uma iluminação especial na sala, uma cor de destaque em alguma parede, um lugar para as fotos da família, um destaque para um quadro de valor sentimental e mesmo, a necessidade de querer conferir um ar mais clássico, requintado ou despojado ao ambiente. Vai ser com esses dados e com sua experiência que o arquiteto vai trabalhar. Dê-lhe todo o material que você dispuser, e preferencialmente, no início da contratação. Quanto mais informação o arquiteto tiver do cliente mais o projeto ficará personalizado.


Quanto deseja investir.

Eis aqui um tabu do brasileiro. Salvo exceções, ninguém gosta de dizer o quanto ganha e o quanto quer gastar exatamente numa obra. Acredito que seja o medo de que o arquiteto cobre mais conforme a carteira do cliente. Errado! O arquiteto tem uma tabela de honorários que é sempre baseada na metragem ou custo da obra. Tirando alguns excêntricos, todo mundo quer gastar o mínimo possível. O arquiteto sabe disso.

Então é desnecessário e contra-producente ocultar o quanto se quer investir. Seria parecido com ir ao banco aplicar um dinheiro em algum investimento sem dizer o quanto se quer aplicar. Para o arquiteto pouco importa o quanto o cliente pretende gastar na obra, a não ser para nortear as decisões e escolhas de cada solução. Para isso sim é fundamental saber quanto se tem para gastar. Se o recurso é pouco, o resultado pode ser afetado sim, mas o arquiteto vai usar toda a sua criatividade e conhecimento para apresentar o melhor possível dentro do valor disponível. Muitas vezes vai economizar no revestimento do piso da garagem para aplicar numa pastilha da fachada que vai trazer melhor resultado, etc.

Não faça testes com seu arquiteto, deixando ele pensar o melhor, o mais grandioso, e que muitas vezes sai um pouco mais caro, para depois dizer que não cabe no orçamento, obrigando-o a rever todo o projeto. Ele vai se frustrar e você também. Assuma a responsabilidade de dizer o quanto deseja gastar e, conseqüentemente, o quanto deseja ganhar com este projeto. Mas seja realista. Não queira um projeto de um milhão de reais, igual à da revista, querendo investir somente cem mil.

Eu sugiro ao cliente não regular os custos do arquiteto ocultando valores ou querendo fazer parte do serviço dele. Pode sair mais caro e pior. Acho preferível que o cliente compare preços tanto da loja, quanto do profissional, procure antes conhecer o arquiteto, sua forma de atuação, sua relação com os fornecedores e, ponha tudo em contrato, inclusive itens como a RT. Bem esclarecida essa parte e acertado os valores dos honorários, vire a página. É hora de relaxar e aproveitar, participando, argumentando e se envolvendo com o sonho que é SEU.


Participe, pergunte, argumente.

Cada pessoa tem a sua maneira de relacionar-se. Existe clientes que deixam as chaves com o arquiteto, vão viajar 2 meses, liberando o apartamento para o arquiteto fazer o que quiser com sua obra, e na volta curtem maravilhados o trabalho do profissional. Convenhamos que esse tipo de cliente é raro. Não se acha em qualquer lugar. Contudo, o cliente que não participa das decisões, não se envolve, mas que no meio ou fim da obra, diz que não gostou, que ficou em dúvida se ficaria melhor de outra maneira, que pensou que seria diferente, etc, é um banho de água fria no arquiteto e na sua criatividade. Por isso, é importante se envolver no processo da obra para acrescentar e não para dividir. Se o cliente se omitir na hora da criação, perde o direito de reclamar depois.


Deixe o arquiteto trabalhar

Preocupado em economizar com a obra (e com o arquiteto), algumas vezes o cliente toma a atitude de querer fazer algumas coisas por conta própria. Pede por exemplo, para o arquiteto resolver o “grosso” da obra ou algum “pepino” somente, e ele próprio escolhe os móveis ou a cor das paredes. Outro receio é de que o arquiteto ganhe comissão das lojas e fornecedores e que isso seja repassado para os custos. Há uma verdade parcial nisso. Como a Reserva Técnica – RT (comissão) não está regulamentada no Brasil, há profissionais que se aproveitam desta situação. Arquitetos que cobram um valor muito abaixo do mercado pelo projeto mas atrelam as compras à determinadas lojas, podem estar ganhando comissão expressiva destas. (Sobre a RT, vou abordar em um post específico).

Mas relaxe. Felizmente, existe o outro lado. Os arquitetos sérios e honestos que são maioria e dentre os quais me incluo. Para os clientes destes há muitas vantagens na parceria arquiteto-fornecedor. Com o arquiteto apresentando o cliente à loja, este terá um atendimento diferenciado, a loja saberá de antemão os conceitos que norteiam o projeto, a mesma linguagem entre a loja e arquiteto facilita a compreensão da necessidade do cliente, e ainda, o cliente pode ganhar até um desconto, que não teria se este não estivesse acompanhado de seu arquiteto. Geralmente eu peço desconto para meus clientes e também que sejam bem tratados. Como resultado de fazer por conta própria, o cliente pode estar gastando mais e ainda, o resultado pode ficar de gosto duvidoso.

Vale destacar também a situação em que o arquiteto apresenta uma solução que é uma tendência para os próximos anos, uma inovação pesquisada em feiras, por exemplo, e o cliente diz não gostar. Daí, sai ele próprio atrás de alguma ideia, folheia revistas, e vai pedindo a opinião do arquiteto sobre o que ele acha de tal e tal solução e, depois de passar em algumas lojas, mostras e conhecer melhor o mercado, ele chega maravilhado com uma solução, sem se dar conta que essa era justamente a proposta que o arquiteto tinha lhe apresentado lá no início e ele não havia gostado. Conclusão: o cliente teve que percorrer todo o caminho que o arquiteto já havia feito várias vezes, o arquiteto teve que ir conferindo cada “novidade” que o cliente encontrava, ao invés de simplesmente confiar na habilidade do profissional. Nestas horas o arquiteto pensa porquê será que ele foi contratado afinal. Deixe o arquiteto trabalhar, não iniba a sua criatividade.

Resumindo, para um bom resultado de uma obra ou decoração, é fundamental fornecer ao arquiteto todos os dados que o cliente tiver sobre suas necessidades, gostos e valores; dizer claramente o quanto está disposto à investir na obra, e envolver-se no processo, mas deixando o arquiteto exercer toda a sua criatividade. Com um bom profissional e um bom relacionamento, torna-se fácil realizar seu sonho com tranqüilidade e satisfação.

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